O câncer, independente do órgão que se origine, traz consigo uma gama variável de prognósticos e modalidades terapêuticas, porém a única situação que parece ser homogênea em todos os diagnósticos é o medo e as incertezas geradas com esse diagnóstico no paciente e em sua família.

A gravidade, os riscos, como tratar são mundos desconhecidos daqueles que experimentam a angústia de passar por essa fase. Felizmente esse cenário tem mudado, não apenas pela melhor informação, como também pela forma como a medicina lida com essas doenças nos dias atuais.

O câncer de mama é um bom exemplo dessa transformação. O diagnóstico e forma com que um paciente era tratado há anos atrás, difere completamente do que vos é oferecido atualmente.

Mamografia e ultra sonografia mamárias constituíam os pilares diagnósticos do câncer de mama, seguidos sempre pela confirmação anatomopatológica. Apesar de serem métodos bastante eficazes, não era incomum a presença de doença neoplásica, principalmente em estádios iniciais, não detectadas por esses exames. Com a chegada da Tomo-Síntese, uma espécie de mamografia 3 D, o número desses casos de doenças iniciais não detectadas diminuiu bastante, vista sua maior sensibilidade. Além disso, a inserção da ressonância nuclear magnética das mamas foi outro passo importante para a melhor compreensão da doença, vista sua exímia capacidade de fornecer informações sobre as características da lesão estudada.

Esses novos incrementos propedêuticos citados acima oferecem ao paciente uma chance de descobrir sua doença em fases mais precoces, o que aumenta sua chance de cura. Embora isto seja verdade, não é apenas devido a isso que a sobrevida e a cura das pacientes portadoras de neoplasia mamária tem aumentado, e sobretudo, melhorado.

As técnicas operatórias aperfeiçoam-se a cada dia. Antes vista como única modalidade cirúrgica curativa, a mastectomia radical associada ao esvaziamento linfonodal axilar vem perdendo espaço e atualmente as cirurgias conservadoras são as principais cirurgias realizadas nessa doença (naqueles casos selecionados e candidatos a essa técnica). Além disso, a possibilidade de se estudar os linfonodos antes de retirá-los, através da pesquisa do linfonodo sentinela, evita com que cirurgias amplas e bastante mórbidas sejam realizadas.

O papel da radioterapia é outro que vem sofrendo questionamentos em situações pontuais. Naqueles casos em que é mandatória sua realização, os aparelhos e as técnicas atuais oferecem mais segurança, com menores riscos ao paciente, sem redução de eficácia.

O tratamento sistêmico é sem dúvidas aquele que tem sido tema de maiores discussões, vista a descoberta de mecanismos biológicos oncogenéticos responsáveis pela gênsese e manutenção da doença. A terapia alvo, como é conhecida, baseia-se no princípio da chave-fechadura, isto é, reconhecendo-se características celulares específicas, como genes modificados e hiperexpressos ou proteínas celulares, são fabricadas drogas capazes de bloquearem as atividades dessas particularidades celulares, e consequentemente, interferir no funcionamento da célula tumoral. Um grande exemplo disso é a descoberto da proteína de membrana HER-2, um receptor que funciona através de estímulos extra-celulares desencadeando no interior da célula uma cascata de funções. O bloqueio desse receptor mostrou-se eficiente em conter o crescimento do tumor. Além dele, a inibição de outros genes/proteínas, como cMET, IGFR, PI3K, dentre outros, tem sido estudada, fortalecendo um horizonte ainda mais promissor. Outro mecanismo importante na sustentação da atividade tumoral é a formação de novos vasos sanguíneos, responsáveis pela oferta de nutrientes ao tecido neoplásico. Foi já observado, também, que oferecer resistência para que o organismo crie novos vasos, reduzindo assim a oferta energética ao tumor, resulta na lentificação do seu crescimento.

Embora tantas novidades estejam emergindo, ainda não conseguimos impedir o desenvolvimento do câncer quando em estágios avançados. Disso decorre a não compreensão completa de todo o mecanismo oncogenético. Sem dúvida alguma, novas descobertas, com enfoque em particularidades genéticas/celulares permitirão que os alvos fundamentais no crescimento tumoral sejam bloqueados, aumentando assim as chances de sucesso terapêutico.

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